Violência contra mulher negra: maioria dos casos começa na juventude
São Paulo, 08 de março de 2023 – A violência contra mulheres negras no Brasil, um problema estrutural que atravessa gerações, tem seu início, na maioria dos casos, durante a juventude das vítimas, segundo dados da pesquisa “Mulheres Negras: Violência, raça e gênero”, divulgada no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher. A pesquisa, realizada pela organização não-governamental Theia, em parceria com o Instituto Patrícia Galvão, revela um panorama preocupante, destacando a necessidade urgente de políticas públicas eficazes para combater esse ciclo de agressão.
O estudo, que entrevistou 1.012 mulheres negras em todo o país, apontou que 67% das entrevistadas sofreram algum tipo de violência antes dos 30 anos de idade. A violência física foi a mais frequente, atingindo 44% das participantes, seguida pela violência psicológica, com 41%. A pesquisa destaca ainda a interseccionalidade da violência, ou seja, como a raça e o gênero se entrelaçam para criar um cenário de vulnerabilidade ainda maior para as mulheres negras. A violência doméstica se mostrou um fator recorrente, com 30% das entrevistadas relatando ter sofrido agressões dentro de casa. A pesquisa também apontou que 36% das mulheres entrevistadas relataram ter sofrido violência sexual alguma vez na vida.
Os dados revelam, de forma alarmante, que a maioria das mulheres negras vivencia a violência pela primeira vez em um período crucial de sua vida, comprometendo sua formação, sua autonomia e seu futuro. A idade em que a violência começa, segundo o estudo, impacta diretamente na capacidade da vítima em buscar ajuda e romper o ciclo de agressão. A pesquisa destaca a importância de estratégias de prevenção focadas na juventude, incluindo educação em gênero e raça nas escolas, e o fortalecimento de redes de apoio e proteção às mulheres negras em situação de vulnerabilidade.
Além disso, a pesquisa ressalta a invisibilidade dessa violência, frequentemente silenciada e subnotificada. A falta de acesso à justiça e a ineficiência das políticas públicas voltadas para a população negra agravam a situação, perpetuando um ciclo de violência e desigualdade. O estudo reforça a necessidade de ações afirmativas e de políticas públicas específicas que considerem a complexidade do problema e as particularidades da experiência das mulheres negras com a violência.
Em conclusão, a pesquisa “Mulheres Negras: Violência, raça e gênero” apresenta um retrato contundente da realidade da violência contra mulheres negras no Brasil. A constatação de que a maioria das agressões começa na juventude sinaliza a urgência de intervenções preventivas e de políticas públicas efetivas que garantam a segurança, a proteção e a justiça para essas mulheres, quebrando o ciclo da violência e construindo um futuro livre de agressão.