Tebet diz ter sido ‘vencida’ sobre anúncio conjunto de isenção do IR e corte de gastos
Brasília, 27 de julho de 2023 – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu publicamente ter sido derrotado na tentativa de anunciar conjuntamente a isenção do Imposto de Renda para os mais pobres e o corte de gastos públicos. A revelação, feita durante entrevista concedida nesta quinta-feira, expõe as dificuldades do governo Lula em articular uma agenda econômica que concilie medidas sociais com a necessidade de ajuste fiscal.
Haddad explicou que a resistência interna ao pacote, que previa a isenção do IR para quem ganha até dois salários mínimos, inviabilizou o anúncio conjunto. A expectativa inicial era de que a medida beneficiasse cerca de 15 milhões de brasileiros, com um custo estimado em R$ 20 bilhões por ano. O ministro atribuiu a falta de consenso à divergência de opiniões dentro do próprio governo sobre a forma de compensar a renúncia fiscal. Embora não tenha especificado quais setores foram os mais resistentes, sua declaração deixa claro o impasse entre a urgência de implementar medidas de alívio social e a necessidade de demonstrar responsabilidade fiscal, especialmente diante da pressão dos mercados.
A estratégia do governo, agora, é anunciar a isenção do IR em separado, sem a apresentação simultânea de medidas de contenção de gastos. Essa decisão fragmenta a proposta inicial, potencialmente enfraquecendo o impacto político positivo do benefício social. A ausência de um corte de gastos concomitante pode, por sua vez, gerar receios no mercado financeiro sobre a capacidade do governo em controlar as contas públicas, levando a um aumento da pressão por medidas de austeridade fiscal. Haddad admitiu a dificuldade em obter apoio para medidas de contenção de despesas, o que acentua os desafios para o governo alcançar o equilíbrio fiscal desejado sem afetar significativamente os programas sociais.
A admissão da derrota por Haddad destaca a complexidade das negociações políticas e a fragilidade da base de sustentação do governo no Congresso Nacional. A separação do anúncio da isenção do IR do corte de gastos demonstra uma estratégia de gestão de crise, buscando minimizar possíveis impactos negativos, mas também reconhecendo a dificuldade em implementar uma agenda econômica amplamente consensual neste momento. O futuro da proposta de isenção do IR, bem como a definição de novas medidas de ajuste fiscal, permanece incerto, dependendo de novas negociações e da capacidade do governo em construir maior apoio político para a sua agenda econômica.