Roupa de cama ‘fétida’ e instalação elétrica precária: como viviam pedreiros resgatados de trabalho análogo à escravidão em Jaguariúna
Jaguariúna (SP), 23 de janeiro de 2025 – A Polícia Rodoviária Federal (PRF) resgatou, na terça-feira (21), 11 trabalhadores em situação análoga à escravidão em uma obra de construção civil em Jaguariúna, interior de São Paulo. As condições de trabalho eram deploráveis, com os pedreiros vivendo em alojamentos insalubres, sem o mínimo de higiene e segurança. O resgate expõe a cruel realidade de exploração que persiste em diversas regiões do país, mesmo em pleno século XXI.
Segundo a PRF, os trabalhadores, todos homens, eram oriundos de estados como Pernambuco, Bahia e Ceará. Eles dormiam em alojamentos com camas improvisadas, cobertos por roupas de cama fétidas e mofadas. A instalação elétrica era precária, representando um risco iminente de incêndios e choques. Além disso, a comida fornecida aos trabalhadores era insuficiente e de baixa qualidade. As investigações apontam que os homens recebiam salários irrisórios e tinham seus documentos pessoais retidos pelos empregadores, impossibilitando-os de procurar por ajuda.
A operação que levou ao resgate foi resultado de denúncias anônimas recebidas pela PRF. Os policiais encontraram os trabalhadores em condições subumanas, constatando a violação de diversos direitos trabalhistas, como a falta de registro em carteira, pagamento de salários abaixo do mínimo e condições de trabalho degradantes. Após o resgate, os trabalhadores receberam atendimento médico e psicológico, além de apoio para retornar às suas cidades de origem. A PRF apreendeu documentos e equipamentos da obra, que foram encaminhados para perícia.
A empresa responsável pela obra, não identificada pela reportagem até o momento, foi autuada pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) por trabalho escravo. A multa aplicada, de acordo com a legislação vigente, pode chegar a R$ 30 mil por trabalhador. O caso foi encaminhado para o Ministério Público do Trabalho (MPT), que irá investigar a responsabilidade dos envolvidos na exploração dos trabalhadores.
O resgate em Jaguariúna serve como um alerta sobre a persistência do trabalho análogo à escravidão no Brasil. Apesar dos avanços na legislação e nas ações de fiscalização, a exploração da mão de obra continua sendo uma realidade cruel para milhares de brasileiros, que são privados de seus direitos básicos e submetidos a condições degradantes de trabalho. A luta pelo combate a essa prática exige esforços conjuntos de órgãos públicos, entidades privadas e da sociedade civil como um todo.