‘Provocação’: políticos, ONGs e sindicatos franceses condenam anúncio do acordo UE-Mercosul
Paris, 29 de junho de 2023 – A assinatura do acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, anunciada na última sexta-feira (23), gerou fortes reações na França. Políticos de diferentes espectros ideológicos, organizações não governamentais (ONGs) e sindicatos se uniram em uma onda de críticas, condenando o tratado e alertando para suas potenciais consequências negativas para o meio ambiente e a agricultura francesa.
A indignação é alimentada pela preocupação com a abertura do mercado europeu a produtos agropecuários sul-americanos, que, segundo os críticos, podem ser produzidos com práticas agrícolas intensivas e com baixo padrão ambiental e social. A deputada europeia Marie Toussaint, integrante do grupo dos Verdes, representou um dos posicionamentos mais contundentes, declarando que o acordo põe em risco a soberania alimentar europeia. Ela reforçou que a entrada de produtos agrícolas do Mercosul, produzidos com padrões inferiores aos europeus, causará uma “concorrência desleal” que pode levar à ruína de pequenos produtores na França.
A preocupação com o desmatamento na Amazônia também é central nas críticas. Os opositores argumentam que o acordo, tal como está, não garante a proteção da floresta e pode, inclusive, incentivar a sua degradação. A falta de mecanismos eficazes de monitoramento e penalização para o desrespeito às leis ambientais é apontada como uma falha grave no acordo.
O impacto sobre a agricultura francesa é outro ponto crucial de divergência. Os sindicatos agrícolas franceses temem uma concorrência avassaladora, que pode afetar seriamente a produção interna, especialmente de carne bovina e açúcar. A preocupação estende-se à perda de empregos no setor agrícola francês, caso a importação de produtos agropecuários do Mercosul aumente significativamente.
A França, portanto, se apresenta como um dos principais focos de resistência ao acordo UE-Mercosul. A união de forças políticas, ONGs e sindicatos demonstra a amplitude da preocupação com os impactos sociais e ambientais do tratado, indicando que a implementação do acordo enfrentará forte oposição no país. A pressão por revisões significativas no texto do acordo, ou mesmo sua rejeição, promete intensificar-se nos próximos meses.