‘Não parecia com nada que eu já tinha visto’, diz médica Adriana Melo, quase uma década depois, sobre descoberta da Zika congênita
João Pessoa, PB – 30 de dezembro de 2024 – Nove anos após a descoberta da relação entre o vírus Zika e a microcefalia, a médica Adriana Melo, uma das protagonistas da identificação da síndrome congênita, relembrou à reportagem do G1 a experiência marcante. A médica, que à época trabalhava no Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), descreveu a situação como algo inédito e profundamente impactante. “Não parecia com nada que eu já tinha visto”, afirmou ela, ressaltando a gravidade das malformações apresentadas pelos recém-nascidos.
O alerta inicial surgiu em meados de 2015, quando um aumento preocupante de bebês com microcefalia foi observado na região nordeste do Brasil. A Paraíba, particularmente, se tornou um dos epicentros do surto. A Dra. Melo, junto à sua equipe, se deparou com uma série de casos que apresentavam características incomuns: recém-nascidos com perímetros cefálicos significativamente menores que o normal, além de outras anormalidades, como calcificações cerebrais. A partir daí, iniciou-se uma árdua investigação para desvendar a causa por trás dessa epidemia de microcefalia.
A conexão entre o vírus Zika e as malformações fetais foi estabelecida após extensa pesquisa e análises laboratoriais. Estudos demonstraram uma forte associação entre a infecção pelo vírus Zika durante a gravidez e o desenvolvimento de microcefalia e outras anomalias congênitas nos bebês. O trabalho colaborativo de diversas equipes médicas e instituições de pesquisa foi crucial para a identificação do agente causador e a compreensão do mecanismo de transmissão.
A descoberta teve impacto global, alertando a comunidade internacional para a ameaça representada pelo vírus Zika. Apesar dos esforços de prevenção e controle, os dados levantados apontaram que cerca de 70% das gestantes infectadas com o vírus Zika na Paraíba apresentaram algum tipo de anomalia no desenvolvimento fetal, resultando em bebês com microcefalia e outras sequelas. O estudo da Dra. Melo e sua equipe contribuiu para a conscientização mundial sobre a importância do diagnóstico precoce e da prevenção da infecção pelo vírus Zika em gestantes.
A entrevista de hoje, quase uma década depois, serve como um marco para relembrar a luta contra a epidemia de Zika e o impacto duradouro de suas consequências. A experiência da Dra. Adriana Melo personifica o trabalho incansável de profissionais da saúde que se dedicaram à compreensão e ao combate dessa doença, deixando um legado inesquecível na história da saúde pública brasileira.