Mercosul e UE: por que a França é a principal adversária do acordo e o que pode fazer para derrubá-lo
– Após anos de negociações, o tão aguardado acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE) enfrenta um obstáculo significativo: a França. O país, liderado pelo presidente Emmanuel Macron, tem se posicionado como a principal adversária do acordo, colocando em risco um pacto que promete impulsionar as economias de ambos os blocos. A resistência francesa, baseada em preocupações ambientais e agrícolas, ameaça frustrar um acordo que levou mais de duas décadas para ser negociado.
O peso da oposição francesa é considerável. Apesar de a negociação ter sido concluída em 2019, a ratificação do acordo enfrenta entraves significativos, principalmente devido às preocupações francesas com o impacto da abertura comercial no setor agrícola. A França argumenta que o acordo não garante uma proteção suficiente aos seus agricultores, temendo uma concorrência desleal com os produtos agropecuários do Mercosul, especialmente considerando o tamanho do mercado brasileiro. Emmanuel Macron chegou a declarar publicamente que não aceitaria o acordo nas condições atuais.
Entre os principais pontos de discórdia estão as preocupações com o desmatamento na Amazônia e a produção de carne bovina no Mercosul. A França defende mecanismos mais rigorosos de controle ambiental para garantir que o acordo não contribua para a degradação ambiental na região. A falta de mecanismos concretos e fiscalização eficaz para reduzir o desmatamento na Amazônia, segundo a França, configura um risco inaceitável. O argumento francês é reforçado pela necessidade de proteger a sua produção agrícola, altamente regulamentada e com altos padrões ambientais.
A resistência francesa não é apenas política. Ela reflete uma forte pressão de setores agrícolas franceses que temem impactos negativos em seus mercados internos. A abertura comercial prevista pelo acordo com o Mercosul poderia significar uma entrada significativa de produtos agrícolas sul-americanos, o que causaria uma concorrência direta com produtores franceses. Estima-se que o acordo poderia gerar um aumento de 15% das importações agrícolas da Europa.
A situação atual deixa o futuro do acordo incerto. Apesar do esforço de outros países da UE em busca de um consenso, a posição intransigente da França coloca em xeque a possibilidade de sua ratificação em breve. A pressão para encontrar uma solução que satisfaça as preocupações francesas, sem comprometer os ganhos econômicos do acordo, é intensa. O sucesso do acordo comercial depende, portanto, de uma solução negociada que consiga conciliar os interesses econômicos com as preocupações ambientais e as sensibilidades do setor agrícola francês. Caso contrário, um acordo que levou mais de duas décadas para ser concluído corre o risco de se tornar mais um exemplo de promessas não cumpridas na arena do comércio internacional.