Maduro toma posse isolado — e Lula segue desconfiado



Caracas, 10 de janeiro de 2023 – Nicolás Maduro iniciou um novo mandato presidencial na Venezuela em meio a uma série de atritos com o governo brasileiro, levando a relação bilateral ao seu pior momento desde o início do governo Lula. A posse de Maduro, marcada por uma crise econômica persistente no país e por crescentes tensões com a comunidade internacional, ocorre num contexto de divergências políticas e de desconfianças que abalam significativamente a parceria entre os dois países.

Os conflitos entre os governos, segundo analistas consultados pela CartaCapital, são diversos e contribuíram para o clima de tensão. A liberação de recursos do Fundo Amazônia, por exemplo, tem sido alvo de divergências. Embora o governo brasileiro tenha garantido que não há condicionantes políticos para o uso desses recursos, o adiamento da liberação de verbas e a lentidão no processo irritaram o governo venezuelano. A questão da demarcação de fronteiras também se apresenta como um ponto de fricção, com impasses que persistem e geram mal-estar.

Além disso, a presença de militares venezuelanos na fronteira com o Brasil, bem como a política migratória venezuelana, têm gerado preocupações em Brasília. O volume de migrantes venezuelanos no Brasil, que soma milhões de pessoas, exige soluções conjuntas, mas as divergências dificultam a articulação de ações efetivas. Há ainda a questão da insistência do governo venezuelano em negociar diretamente com a Petrobras, buscando melhores preços para seu petróleo, em detrimento de negociações mais amplas. Essa postura foi vista como desrespeitosa pelos negociadores brasileiros.

A deterioração da relação bilateral é ainda mais significativa considerando o histórico de aproximação entre Lula e Chávez, antecessor de Maduro. A diferença de abordagem política e o acúmulo de divergências durante o ano de 2022 contribuíram para o clima de desconfiança e abalaram a base da relação entre os dois países. A posse de Maduro, portanto, ocorre num momento delicado, marcado por desafios internos e externos que dificultam a retomada de um relacionamento mais próximo e cooperativo com o Brasil.

A cerimônia de posse de Maduro transcorreu sem grandes incidentes, mas a sombra dos conflitos com o Brasil paira sobre o novo mandato. Resta saber se o governo brasileiro e o venezuelano conseguirão superar as divergências e construir uma relação mais sólida nos próximos anos, fundamental para a estabilidade regional e para a cooperação em temas cruciais como a Amazônia e o combate ao narcotráfico. O momento atual indica que a tarefa será árdua e exigirá esforços diplomáticos significativos de ambos os lados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *