Lembranças da repressão: ex-diretor de cineclube fala sobre dificuldades durante período da ditadura militar em Cuiabá



Cuiabá, 09 de dezembro de 2024 – A sombra da ditadura militar ainda paira sobre a memória de muitos brasileiros, e em Cuiabá, Mato Grosso, as lembranças da repressão são revividas através do relato de Geraldo Magela, ex-diretor do Cine Clube de Cuiabá. Em entrevista concedida recentemente, ele detalhou as dificuldades enfrentadas durante aquele período, marcado pela censura e pela vigilância constante. As dificuldades foram inúmeras, afetando diretamente a liberdade de expressão e a atividade cultural na cidade.

Magela, que dirigiu o Cine Clube entre 1970 e 1973, recorda-se do clima de medo e insegurança que permeava a sociedade. A censura era uma realidade presente em todos os aspectos da vida pública e privada, e o cinema não ficava de fora. A seleção de filmes para exibição era um processo delicado, exigindo cautela e atenção redobrada para evitar problemas com os órgãos de repressão. A escolha de cada produção era minuciosamente analisada, buscando-se evitar temas que pudessem ser interpretados como subversivos ou contrários aos interesses do regime. “A gente tinha que ter muito cuidado na escolha dos filmes. Qualquer coisa que pudesse ser interpretada como crítica ao regime, a gente já tirava”, lembra Magela.

A vigilância, segundo o ex-diretor, era constante. O Cine Clube, como espaço de cultura e debate, estava sob observação. “A gente sabia que estava sendo observado. Tinha informante em todos os lugares”, afirma. A pressão era tão grande que, em alguns momentos, a própria sobrevivência do Cine Clube ficou ameaçada. A falta de recursos e a dificuldade de obter autorizações para eventos e exibições eram obstáculos frequentes. O ambiente era tão tenso que a programação precisava ser pensada com a devida cautela, para não atrair a atenção dos órgãos de repressão.

Apesar das adversidades, Magela destaca a importância da resistência cultural durante a ditadura. O Cine Clube, mesmo sob pressão, continuou a funcionar como um espaço de encontro e debate, promovendo a difusão do cinema e a resistência à censura. “A gente lutava para manter o Cine Clube vivo, porque era um espaço de resistência cultural”, enfatiza. Sua experiência, agora compartilhada, serve como um importante testemunho histórico da luta pela liberdade de expressão em um período sombrio da história do Brasil.

A narrativa de Geraldo Magela proporciona uma visão íntima e comovente da realidade vivenciada em Cuiabá durante a ditadura militar. Sua história serve como um alerta para a importância da preservação da memória e da luta contínua pela liberdade e pela democracia. A resistência cultural demonstrada pelo Cine Clube e por seu ex-diretor é um exemplo inspirador de como, mesmo em meio à repressão, é possível manter viva a chama da liberdade e da expressão artística.

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