Há 40 anos, eleição indireta sepultava a ditadura brasileira



São Paulo, 15 de janeiro de 2024 – Em 15 de janeiro de 1984, o Brasil assistia ao que muitos consideraram o prenúncio do fim da ditadura militar: a eleição indireta de Tancredo Neves para a presidência da República. A vitória de Tancredo, candidato da oposição, representou um marco histórico na trajetória do país, marcando o início do processo de transição para a democracia após 21 anos de regime autoritário. A escolha, porém, não foi isenta de controvérsias e deixou em aberto questões cruciais sobre a efetiva ruptura com o passado.

A eleição, realizada pelo Colégio Eleitoral composto por parlamentares, foi um jogo de poder intrincado. Tancredo Neves, da Aliança Democrática (PDT, PMDB e PFL), obteve 480 votos, contra 180 conquistados por Paulo Maluf, candidato do PDS, partido governista. A vitória de Tancredo, um nome que representava a conciliação entre setores da sociedade civil e militares moderados, foi celebrada como um triunfo da oposição, que conseguira superar o poder estabelecido. A votação também demonstrou um forte repúdio ao regime militar, que havia se mostrado cada vez mais impopular nos anos anteriores.

Apesar da vitória, a transição não seria pacífica. A eleição indireta, embora um passo importante, não garantia uma ruptura completa com o passado. Muitos militares se mostraram resistentes à mudança, e a composição do novo governo refletia essa tensão. A vitória de Tancredo, um político experiente e articulado, foi celebrada como um sinal de esperança para a retomada da democracia, mas também carregava a incerteza do futuro, com os desafios de consolidar as conquistas e garantir a plena instalação de um regime democrático.

A escolha de José Sarney como vice-presidente, apesar de aliado de Tancredo, gerou discussões sobre o poder que continuaria concentrado nas mãos de figuras ligadas ao regime militar. A própria composição do Colégio Eleitoral, com uma forte presença de políticos com histórico na ditadura, refletia a complexidade do processo de transição.

Quarenta anos depois, a eleição indireta de 1984 permanece como um capítulo fundamental da história brasileira, um momento de transição delicado e repleto de simbolismos, que abriu caminho para a consolidação da democracia, porém sem eliminar completamente a influência das estruturas do regime anterior. A vitória de Tancredo Neves, embora marcada pela fragilidade e incertezas, simbolizou a esperança de um novo tempo para o país, um futuro ainda em construção.

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