Foste herói
A polêmica homenagem a João Alberto Silveira Freitas: herói ou vítima de um sistema?
– Há um ano e um mês, João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos, foi brutalmente assassinado dentro de um supermercado Carrefour em Porto Alegre. A comoção nacional gerou protestos e debates acalorados sobre racismo estrutural e violência policial. Hoje, a discussão se amplia com uma polêmica homenagem prestada pelo próprio Carrefour: a inclusão de Freitas como um dos “heróis” da companhia em um evento interno. A decisão, no entanto, gerou indignação nas redes sociais e levantou questionamentos sobre a real intenção por trás da iniciativa.
O ato em questão ocorreu durante a celebração do “Dia do Colaborador”, evento anual da rede varejista. A homenagem a Freitas foi inserida em um vídeo que destacava personalidades que, segundo o Carrefour, representariam valores como “coragem”, “persistência” e “determinação”. A empresa, em nota, afirmou que a intenção era “lembrar a todos os colaboradores da importância da diversidade e da inclusão”. A narrativa escolhida, porém, minimiza a brutalidade do assassinato de Freitas, ocorrido em meio a um contexto de racismo estrutural e violência policial que, segundo pesquisas da ONU, resulta em 23% dos assassinatos de pessoas negras no país, sendo a maioria jovens.
A inclusão de Freitas em uma lista de “heróis” ao lado de outros colaboradores que atingiram metas de vendas, por exemplo, foi interpretada por muitos como uma tentativa de “lavagem de imagem” por parte do Carrefour. A empresa foi alvo de inúmeras críticas após o assassinato, sendo multada em R$ 1,5 milhão e sofrendo uma forte queda em suas ações na bolsa. Considerando esses pontos, a homenagem foi recebida com profundo mal-estar por parte da população, especialmente da comunidade negra, que a considera uma afronta à memória de Freitas e à luta contra o racismo. A indignação se espalhou pelas redes sociais, com diversos internautas questionando a superficialidade da homenagem e a falta de comprometimento efetivo da empresa com a luta antirracista.
A polêmica demonstra a complexidade da discussão sobre racismo e justiça social. Embora o Carrefour tente se apresentar como uma empresa comprometida com a inclusão, a forma como a homenagem a João Alberto Silveira Freitas foi conduzida revela uma desconexão com a realidade e a profundidade da dor causada pelo seu assassinato. A apropriação de sua imagem como um “herói” corporativo, sem um reconhecimento genuíno do contexto de violência e injustiça em que ocorreu sua morte, aponta para a necessidade de ações mais concretas e efetivas por parte de grandes empresas na luta antirracista, indo além de simples gestos simbólicos e declarações superficiais. A discussão permanece aberta, demandando reflexões profundas sobre como as empresas podem efetivamente combater o racismo estrutural e promover a justiça social.