ESG: Especialista comenta porque a reciclagem avança tão pouco no Brasil
São Paulo, 28 de junho de 2023 – Apesar do crescente apelo por práticas sustentáveis e da importância da reciclagem para a economia circular, o Brasil patina em sua implementação. A baixa taxa de reciclagem no país, que se mantém em torno de 3%, revela um cenário preocupante, contrastando com o potencial latente e a urgência de se alcançar metas ambientais. Especialistas apontam diversos entraves que impedem um avanço mais significativo nesse setor crucial.
Segundo a especialista em sustentabilidade, Patrícia de Abreu, em entrevista à Carta Capital, a falta de investimento em infraestrutura e a ausência de uma política pública robusta são fatores determinantes para o baixo índice de reciclagem. “A reciclagem no Brasil é incipiente, principalmente em função da falta de um plano nacional com metas, prazos e responsabilização”, afirma Abreu. A dificuldade na logística reversa, que engloba a coleta, transporte e processamento dos resíduos, contribui significativamente para o problema. A complexidade em separar e processar diferentes tipos de materiais, somados à carência de tecnologias adequadas e de profissionais especializados, agravam o cenário.
O estudo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) aponta que apenas 3% dos resíduos sólidos urbanos são reciclados no Brasil. Mesmo em comparação com outros países da América Latina, o índice brasileiro fica aquém. Enquanto o Chile recicla cerca de 20% de seus resíduos, o Brasil permanece estagnado. A especialista destaca também a importância da educação ambiental na conscientização da população. A falta de informação e o hábito pouco difundido de separar corretamente os resíduos nas residências são obstáculos consideráveis.
Além da infraestrutura precária e da falta de educação ambiental, o modelo de negócio da reciclagem enfrenta dificuldades. Abreu explica que o modelo atual, baseado em cooperativas de catadores, muitas vezes, não consegue garantir a rentabilidade do negócio e a sustentabilidade financeira das próprias cooperativas, dificultando a expansão e a profissionalização do setor. A inclusão social, muitas vezes associada à reciclagem, também sofre com a precariedade do sistema, impedindo que se torne uma atividade econômica mais justa e eficiente.
Em suma, a baixa taxa de reciclagem no Brasil é consequência de um conjunto complexo de fatores, que engloba a falta de políticas públicas eficazes, investimento em infraestrutura, educação ambiental e um modelo de negócio sustentável. Superar esses desafios é fundamental para que o país alcance patamares mais satisfatórios em reciclagem e contribua para um futuro mais sustentável. A necessidade de um plano nacional, com metas claras e a responsabilização de todos os agentes envolvidos, se configura como um passo crucial para impulsionar o setor e promover a economia circular no país.