Escravo ou escravizado? O debate que reflete mudança de como Brasil enxerga a escravidão



São Paulo, 20 de novembro de 2024 – A discussão sobre o termo mais adequado para se referir a pessoas submetidas à escravidão – “escravo” ou “escravizado” – ganhou força no Brasil, refletindo uma mudança na maneira como a sociedade brasileira encara seu passado escravocrata. A polêmica, que permeia debates acadêmicos e a produção de conteúdo histórico, evidencia uma crescente sensibilidade em relação à linguagem inclusiva e ao respeito pela dignidade das vítimas.

O uso do termo “escravizado”, defendido por muitos historiadores e ativistas, busca humanizar as vítimas da escravidão, enfatizando que eram pessoas privadas de sua liberdade, e não meros objetos. A palavra “escravo”, por sua vez, é criticada por sua conotação de passividade e por perpetuar uma imagem desumanizada dos indivíduos submetidos à escravidão. A mudança de perspectiva não é apenas semântica; ela acompanha um movimento maior de revisão crítica do passado e de uma busca por uma narrativa mais justa e completa da história do Brasil.

Um levantamento realizado pela equipe do G1, embora não apresente dados numéricos precisos, indica uma crescente adesão ao termo “escravizado” em diversos materiais didáticos, livros acadêmicos e produções midiáticas. A mudança, no entanto, não se dá de forma homogênea, e persiste um debate acalorado sobre a melhor forma de abordar o tema, com defensores de ambas as nomenclaturas apresentando argumentos consistentes.

Para alguns, a palavra “escravo” é parte integrante da história e sua erradicação representaria uma forma de apagamento do passado. Outros argumentam que a preservação do termo contribui para a manutenção de um discurso que minimiza o sofrimento e a desumanização sofridos pelas vítimas. A busca por uma linguagem que equilibre o respeito pela memória histórica com a necessidade de uma representação digna das pessoas escravizadas continua sendo um desafio.

A discussão sobre “escravo” versus “escravizado” transcende a mera escolha lexical. Ela revela uma evolução na forma como o Brasil se confronta com seu passado e busca construir um futuro mais justo e equitativo. A adoção da linguagem como ferramenta de reparação e de reconhecimento do sofrimento infligido a milhões de pessoas se mostra como um passo crucial nesse processo de construção de uma memória histórica mais sensível e responsável.

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