A loucura vista de dentro
São Paulo, 24 de outubro de 2023 – O livro “A Loucura Vista de Dentro”, de Angelo Oswaldo de Araújo, proporciona um mergulho impactante na fragilidade do sistema de saúde mental brasileiro. Longe de ser um tratado acadêmico impessoal, a obra oferece um relato visceral, baseado em experiências pessoais do autor durante sua internação em uma instituição psiquiátrica. Através de sua narrativa crua e comovente, Araújo expõe as deficiências estruturais, a falta de humanização e o preconceito que permeiam o tratamento de pessoas com transtornos mentais no país.
O autor, que passou 26 dias internado na unidade de saúde mental do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), detalha as condições precárias encontradas. Descreve a superlotação, com 20 pacientes em um espaço projetado para apenas 10, resultando em um ambiente insalubre e tenso. A falta de recursos básicos, como materiais de higiene e alimentação adequada, também é destacada na narrativa, pintando um quadro preocupante da realidade enfrentada por pacientes em busca de tratamento.
Além das condições físicas, Araújo denuncia a ausência de um tratamento humanizado e individualizado. Ele relata a dificuldade de acesso a profissionais de saúde mental, a falta de diálogo e a prevalência de práticas medicalizantes que desconsideram as necessidades individuais de cada paciente. A obra evidencia a desumanização inerente ao sistema, onde os pacientes são tratados como números e não como indivíduos com histórias e necessidades únicas. A escassez de psicólogos e psiquiatras, que resulta em longas filas de espera e um atendimento insuficiente, é apontada como um dos fatores que contribuem para a problemática.
A experiência de Araújo também evidencia a estigmatização que cerca a doença mental. A narrativa demonstra como o preconceito, tanto por parte de profissionais quanto da sociedade em geral, agrava ainda mais o sofrimento de quem busca ajuda. O autor destaca que a falta de informação e a persistência de mitos em torno da saúde mental perpetuam essa realidade.
Em sua conclusão, a obra não se limita a apontar os problemas. Araújo propõe reflexões importantes sobre a necessidade de um sistema de saúde mental mais justo, humanizado e eficiente, fundamentado em um modelo de cuidado centrado na pessoa e que combata o preconceito e a estigmatização. A obra funciona como um grito silencioso, um alerta sobre a urgência de mudanças profundas no sistema, para que a loucura deixe de ser vista como algo distante e estigmatizado, e se torne um tema tratado com a devida atenção e respeito. Através de seu relato, Araújo oferece uma contribuição valiosa para o debate sobre a saúde mental no Brasil, e impulsiona a necessidade de ações concretas para transformar essa realidade.